1985. Osasco, SP.
início do ano. eu tinha quase 5 anos de vida. não lembro exatamente o mês, mas lembro nitidamente que minha mãe tinha uma barriga enorme que quase estourava de tão grande.
estávamos eu, minha irmã, minha mãe e sua barriga e meu pai, dirigindo o seu passat branco.
não sei onde íamos nem de onde voltávamos. mas lembro perfeitamente da pergunta que minha mãe me fez: 'qual o nome nós daremos para o seu irmãozinho?'
aí eu disse: felipe, rodrigo,... (devo ter sugerido 1000 nomes, mas só lembro desses!)
dias depois, íamos no carro papai, giselle e eu visitar o irmãozinho na maternidade com a mamãe.
lembro bem: giselle morta de ciúmes e sem falar com ninguém (de tanto ciúme) e eu, toda entretida com a fazendinha que o irmãozinho tinha me trazido.
eu não sabia ao certo o que estava acontecendo, mas naquele 12 de abril nascia meu amigo, meu saco de pancadas, meu irmão caçula.
ele era branco, mas branco mesmo. tinha um cabelo bem pretinho, e suas mãos tinham furinhos, de tão gordinho que era. se fosse menina, poderia receber o nome de Branca de Neve!
quase 5 anos distanciam meu nascimento do dele.
enquanto eu crescia (me achando) , ele crescia na mesma velocidade, mas 5 anos distantes.
praticamente foi criado em apartamento. digo isso porque morei em casa mais tempo que ele.
a diferença de idade fazia com que eu me achasse 'madura', 'poderosa' e melhor que ele muitas vezes. então, eu me trancava no quarto com minha irmã para brincarmos de boneca e ele ficava no quarto dele com os brinquedos de menino.
aliás, o quarto dele era o outro mundo da casa pra mim. enquanto o meu era uma eterna bagunça e havia uma eterna briga da minha mãe e minha irmã contra minha desorganização (ok, a essa altura da vida assumo que sou bagunceira!), o dele era (e é até hoje) o lugar mais arrumado e organizado que eu conheço (acho que só perde pro armário da minha mãe).
seus Legos eram impecávelmente arrumados em caixas organizadoras e ele sabia exatamente quantas cabeçinhas de leguinho, quantos chapéuzinhos de cowboy, quantas rodinhas de carrinho e quantos tudo mais que se pode imaginar, ele sabia quanto tinha de cada. e quando algum amiguinho abusava da sua bondade e levava uma peçinha, ele sabia.
os seus Legos era e são até hoje marcantes em minha vida porque não conheço alguém que curtiu tanto brincar de montar como ele.
e brincava sozinho.
eu entrava naquele quarto todo decorado com pipas e logo via no chão cidades e cidades de Lego.
e ele brincava naquele mundinho que era só dele e quando chegava alguém ele recebia com carinho. mas não podíamos perder peças, senão.....
crescemos juntos, na mesma casa, mas em 2 mundos distantes.
eu no meu mundo cor de rosa onde eu era a dona do quarto que dividia com a Gi e nele fazia a bagunça que queria e entrava quem eu deixava.
e ele, no quartinho azul com pipas e suas Legos, onde todo mundo sempre era bem vindo e a alegria era notória quando eu entrava lá para brincar com ele.
(irmã mais velha tem esse lance de se achar melhor e mais madura que irmão mais novo! quanta idiotice!)
era um menino tão bonzinho que quando algum garoto mala queria tirar proveito disso e batia nele, era fato que ia apanhar de mim. tivesse o tamanho que fosse.
'no meu irmão só eu podia bater! eu e mais ninguém! eu virava uma fera!'
um dia, lá no clube militar de Barueri-SP, uma mãe veio cheia de razão me perguntar porque eu tinha batido no filho dela. eu respondi sem titubear:
'ele bateu no meu irmão, que é pequeno!' e saí correndo.
em 91 ou 92, não me lembro exatamente o ano, eu e ele fomos acampar. sozinhos. sem pai ou mãe por perto. só haviam monitores e crianças.
lá, ficávamos em quartos separados. meninos em um, meninas em outro.
como? como eu ia saber se ele estava agasalhado? se ia usar a roupa certa?
meu instinto maternal deu sua primeira aparição lá naquele acampamento. onde fui chamada por uma monitora para conversar. ela me disse:
'assim como seu irmão, existem outras crianças da idade dele que estão se virando sozinha! seu irmão é um rapazinho e tem monitores lá dentro para dar uma ajuda pro meninos! curte o acampamento que nós cuidamos dele, ok?'
aquilo foi como um balde de água fria, mas depois entendi que ela tinha razão e que meu irmão sabia se virar sem mim. estava crescendo.
e cresceu. cresceu tanto que está maior que meu pai. está maior que minha a referência masculina.
difícil entender que meu irmão mais novo completa hoje 25 anos.
é, a vida passa mesmo!!
com ele, vivi o amor e a raiva, a amizade e o egoísmo, a proteção e o desprezo.
crescemos nos amando e disputando espaço.
hoje, sabemos bem o espaço de cada um.
hoje, descobrimos que somos tão parecidos que isso nos fez exercitar uma convivência curiosa. conviver com ele era como conviver com minha versão masculina. e vice e versa.
as diferenças entre nós 2 são poucas, mas nos fazem singulares.
a relação entre irmão é mesmo esquisita. esquisita e tão necessária.
pra mim, é a relação bipolar que o ser humano precisa viver para construir sua personalidade. é a relação essencial para nos relacionarmos com o mundo. um irmão nos apresenta os sentimentos em casa e então aprendemos a lidar com ele. daí, quando freqüentamos o mundo, já sabemos como lidar. isso claro, dentro do contexto de cada idade.
meu irmão. como amo esse mala que quando tem seus 15 minutos de mau humor, ninguém suporta ficar perto. mas quando tem os 5 minutos de carinho, não quero sair do lado dele!
ah, a minha mãe... até hoje não entendi porque ela me perguntou qual nome meu irmãozinho deveria ter. não aceitou nenhuma sugestão.
nomeou ele de GERSON ROCHA JÚNIOR.
pra mim, ele é e sempre será o Ninão!
"te amo Nino! Que Deus multiplique seus dias aqui na terra e que nunca te falta saúde!""
Um comentário:
SEM PALAVRAS!
TE AMO
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