quarta-feira, 13 de julho de 2011

sobre o bom senso na hora de parir!

a gravidez da nossa filha foi planejada!
quando meu marido e eu achamos que era a hora de ter um filho, começamos à tentar!

e aí, quando eu fiquei grávida, só tinha uma coisa na minha cabeça: 'quero parir de parto normal'.
passei os nove meses pensando que teria as 'tão mal faladas' dores de parto, mas que seria por uma boa causa: seria para o meu bem e para o bem da minha filha.
eu queria viver aquelas dores, aquele momento. juro.

na reta final, fui à obstetra para realizar a consulta de rotina e fui orientada à fazer uma cesárea porque eu não estava tendo contrações, já tinha perdido o tampão (que eu nem sabia que existia), a minha placenta já estava amadurecida no seu grau máximo (são 3 graus), Manu poderia entrar em sofrimento, blá, blá, blá.
e ela disse: 'vou agendar centro cirúrgico na maternidade depois de amanhã. se você quiser, pode esperar o parto normal, mas será arriscado. o melhor para você e para sua filha nesse momento é a cesárea.'

ouvir aquilo foi como levar um soco no estômago.
saí do consultório totalmente desnorteada.
oras, eu passei nove meses planejando uma coisa que não iria dar certo!
primeiro veio o sentimento de decepção.
e depois veio o sentimento de culpa por não ter parto normal. era como se eu estivesse cometendo um erro.

acabei decidindo pela cesárea, afinal eu não queria colocar a vida da minha filha em risco.
eu queria o melhor para minha filha e pra mim.
no dia marcado fui para a maternidade de malinha feita, sem dor de contrações e feliz da vida.
deu tudo certo. minha filha estava nos meus braços, e naquele momento não importava se tinha sido por parto normal ou por cesárea.

a cesárea, por sinal, é tudo de bom também. não há dor.
o único incomodo é o pós-parto. os gases que ficam na barriga doem muito e os pontos também incomodam. mas apesar disso, eu teria outra cesárea sem problemas.

e isso foi em 2006. nessa época eu não acompanhava blogs e fóruns de discussões sobre parto.
hoje, leio muito sobre. e o que mais se fala por aí é a questão do 'emponderamento'!
estimula-se a mulher a ter seu filho de parto normal, porque é o que o natural.
fala-se muito sobre a banalização da cesárea X partos humanizados e/ou domiciliares.
a discussão é longa.

e eu, que estou querendo engravidar de novo, ficava assistindo vídeos e lendo relatos de partos humanizados E domiciliares e ficava imaginado quanto deve ser legal parir em casa, sem intervenção cirúrgica, que nem uma índia, como a natureza feminina 'manda'!
imaginava como seria comigo: eu, meu marido, minha filha, uma doula e a parteira.
(só imaginação mesmo, porque no fundo eu acho que não teria coragem!)
enfim, assistia admirando aquelas mulheres parindo de forma linda e natural.
o corpo delas trabalhando sem interferência de medicamentos. coisa linda mesmo.

em sua maioria, os blogs, sites e pessoas que defendem o parto domiciliar baseiam-se em experiências próprias ou de pessoas próximas (assim eu imagino). e defendem que a mulher tem o direito de escolher como quer parir (salvo os casos de indicação médica para cesárea) e que estando tudo bem com ela e com o bebê, pode-se fazer um parto domiciliar tranquilamente, afinal, o corpo feminino tem em sua natureza todo o preparo para gerar e parir um bebê naturalmente.

eu também acho que, estando tudo bem, a mulher deve sempre optar pelo parto normal.
acho que a cesárea está banalizada no Brasil e que as mulheres querem cada vez menos sentir dores. querem programar data, arrumar cenário de maternidade (lembrancinhas), fazer fotos do nascimento com fotógrafos profissionais, enfim, estão cada vez mais adeptas à cesárea. e os médicos também. afinal, marcar cesárea não exige sair de casa no meio da madrugada. fora que a cesárea é muito mais rentável $$!

essa discussão é muito linda, comove e influencia muita gente (para um lado ou para outro)!

na prática funciona assim:
uma amiga muito querida, decidiu com seu marido que estava no momento ideal para terem um filho.
engravidou.

fez o pré-natal.
se alimentou saudavelmente.
não bebeu, não fumou.
fez drenagem linfática no final.
se cuidou direitinho.
fez tudo como manda o figurino.
(quem olhava ela de costas, nem dizia que estava grávida.)

pode-se dizer que sua gravidez foi exemplar.

no momento certo, seu corpo avisou: era hora do seu bebê nascer.
entrou em trabalho de parto.
correu pra maternidade e não demorou muito seu filhote lindo nasceu.
saudável e lindo.
parto normal!

e minutos depois de nascer, o lindo bebê estava no colo do papai orgulho, que instantaneamente se dirigiu ao berçário para exibir o filhote aos familiares e amigos!

enquanto isso acontecia, na sala de parto o clima não era de felicidade, e sim de total preocupação. minha amiga teve hemorragia, e precisou ser operada.
complicação pós parto! saca?

então! ela entrou em coma e ficou em estado grave.
enquanto isso o marido se dividia entre a alegria pela vida de seu filho e a angústia, sofrimento e incerteza pela vida da esposa.

essa história poderia ter tido um final trágico se minha amiga tivesse optado pelo parto domiciliar.
por mais saudável que ela e o bebê fossem, isso não era garantia para ter um parto desassistido (por médico) sem riscos!

e outra, no hospital que ela deu à luz, havia estrutura para atender ela e o bebê. se ela não estivesse ali, certamente não estaria mais entre nós.

estou relatando essa história porque até isso acontecer com ela, eu nunca tinha parado para pensar nos riscos de se ter um parto domiciliar e desassistido.

tá, tudo bem, o sistema de saúde pública no Brasil é uma merda e a grande maioria das mulheres que não tem plano de saúde passam apuros em corredores de hospitais largados pelo governo e dependendo de onde moram (área rural, sertão, etc) parir em casa é a única opção.
não vou abordar essa questão aqui.

refiro-me à faixa da população que possui acesso à hospitais e/ou possuem planos de saúde.
porque essa população sim tem tido a oportunidade de optar em ter o bebê em casa ou no hospital.
e são essas mulheres que tem acesso aos hospitais que estão cada vez mais escolhendo o parto domiciliar. e alegam que o 'sistema' nos empurra cesárea, que nos dão brecha para escolher entre parto normal e cesárea, que nossos médicos não estão dispostos à 'assistir' de fato os trabalhos de partos (que podem durar horas) e que o clima hospitalar não é legal.

enfim, todos sabemos que há uma questão cultural sobre isso.
nossa sociedade está acostumada à cesárea. fato. o parto normal não é a preferência.
e como há brecha para a mulher escolher, acaba-se optando pela 'intervenção cirúrgica'.

muitas as mulheres estão 'remando contra a corrente', e estão optando pelo parto normal e domiciliar. está virando 'moda' ter filho em casa. e há mulheres que argumentam que em alguns países da Europa o governo incentiva essa prática.

ok, isso é na EUROPA!!! lá existem profissionais da saúde que assistem a mulher em trabalho de parto domiciliar. são preparados para esse trabalho.

aqui no Brasil a história é bem outra! não possuímos profissionais especializados em parto domiciliar, as chamadas obstetrizes (diferente de doula. e doula não é médica).

sabemos que em áreas de difícil acesso, existem parteiras. e que as mulheres têm seus filhos em casa. mas sabemos também que, hoje em dia, ainda muitas mulheres 'morrem de parto'.

recentemente a filha da Ana Maria Braga foi ao programa dela dizer que teve um parto domiciliar, que tinha sido lindo, que as doulas eram ótimas e que super indicava parir em casa.

gente, não tenho ABSOLUTAMENTE nada contra doulas, acho inclusive que os hospitais deviam ser obrigados permitir a presença dessa profissional na sala de parto, se fosse desejo da mulher.
a doula é a pessoa que dá suporte físico e emocional à mulher antes, durante e depois do parto.
muitas mulheres se sentem confortáveis e seguras com a presença dessa profissional.

eu acho que está faltando o 'meio termo' nessa história de parto normal e domiciliar X cesárea/parto no hospital.

acho que ao se decidir fazer um parto em casa, a mulher está colocando em risco a vida dela e do bebê. nunca se sabe o que pode acontecer depois que o bebê nasce. as complicações pós parto existem, são uma realidade. as UTIs estão aí pra isso. se há a opção de parir em um hospital, por que se arriscar?

pra mim, 'emponderar-se' é escolher ter um parto natural, e de preferência normal. é saber que o melhor para o bebê não é apenas nascer num ambiente familiar, mas também em um ambiente seguro.
quando leio ou escuto por aí que temos que brigar pelo parto normal, sou super à favor.
acredito que o mais lindo e natural é o parto normal. mas acho que a população de mulheres que veste a camisa do parto normal domiciliar, deveria lutar pelo parto normal com segurança.

a minha amiga, passou umas horas na UTI, uns dias no hospital, inspirou muitos cuidados mas hoje está em casa, com sua saúde restabelecida e amamentando e cuidando do seu filho.
graças à Deus, aos médicos e a estrutura hospitalar!

2 comentários:

Luisa Dias disse...

Alê, tivemos uma história parecida... Também me preparei para um parto normal e me senti lesada quando disse que não poderia. Não sabia nada sobre cesariana, até viver a intervenção cirúrgica. No final, foi um sucesso. Tomás nasceu lindo e fofo com 8 meses! Acho que as discussões deviam ser menos politicamente corretas e mais humanas. A escolha é pela saúde da mãe e do filho e com orientação de um bom profissional de saúde. Bjokas!

Maressa R. Prado Cacau disse...

hmm... to achando q Manu logo vai ganhar um irmãozinho, hein?

;)