a gente sabe que um dia isso vai acontecer, mas isso não afasta esse sentimento de medo para longe.
viver durante muito tempo com a sensação de que à qualquer momento você vai enterrar alguém é muito opressor. ainda mais quando esse alguém é uma pessoa que você ama.
pois é, eu vivi muitos momentos ruins. vivia sobressaltada. quantas e quantas noites eu dormia achando que no dia seguinte teria uma notícia que eu não queria ouvir.
apesar da fé que me fortalecia, o medo me rondava.
aí, a minha irmã transplantou seu coração, e com isso 'chutou' a possibilidade de morte pra bem longe dela. o transplante não a tornou imortal, mas ofereceu à ela chance de viver saudável.
e isso foi há dois anos. dois anos que eu não visito ela no hospital. dois anos que ela está curada e vive com saúde.
o medo da morte, se foi. sei que ela está bem. mas conviver com esse medo durante um tempo, me deixou sequelas.
não sei exatamente quais sequelas, mas sei que as tenho.
sei que depois da tempestade, veio a bonança.
mas de maneira estranha, porque a sensação que tenho é que tiraram uma venda dos meus olhos. sensação de que o mundo de antes era mais cor de rosa, e que esse mundo de hoje tem as cores reais que antes eu não enxergava. parece que agora eu estou realmente acordada para vida, para o que realmente ela é: a gente nasce, cresce e morre. simples assim.
antes eu sabia que a morte existia, mas como ela andava longe, não lembrava dela.
é como se eu estivesse numa bolha que foi estourada. tipo: a vida não é tão doce assim.
a vida tem seus momentos tristes também.
e eu sabia disso, mas na teoria. na prática é outra coisa. ver as dificuldades e angústias dos outros é moleza. sentir na pele é outra coisa.
e eu sabia que na prática seria duro, mas não tanto. ninguém tinha me explicado que na minha pele ardia também.
acordar para a realidade dói. e dói bastante.
o problema não é a morte, e sim o medo!
porque a morte foi embora, mas o medo às vezes ronda.
e não o medo da morte, mas o medo em si.
e ter medo não é bom, ainda mais para alguém como eu, que nunca temeu nada.
porque quando a gente não sente na pele, a gente não imagina o quanto dói, e com isso a gente não tem medo, porque pensa que vai tirar de letra quando for com a gente.
mas aí, quando acontece com a gente dói muito, e quase não dá para aguentar, e a gente pensa que vai morrer junto! mas a gente supera, porque precisa superar. e descobre que é forte.
mas depois ficam as feridas, que demoram pra cicatrizar. e quando se fecham, deixam uma marquinha pra gente lembrar que um dia ela doeu, que passou, que somos fortes e podemos suportar outras. (aff, essa teoria é linda!)
ou não!
a marquinha pode lembrar o quanto realmente doeu, e com isso o medo de sofrer de novo volta.
o sofrimento dói, mas quando se vai deixa uma pessoa melhor (na maioria das vezes)!
eu tô bem assim. me sinto uma boa pessoa. não sinto necessidade de melhorar mais às custas de sofrimento. (como se eu tivesse a possibilidade de determinar o rumo da vida......!)
e hoje, vou vivendo a vida como sempre vivi. cada dia como se fosse o último. com a diferença que de vez em quando tenho que me esforçar e mandar o medo pra casa do c....
(pronto! desabafei!)